terça-feira, 20 de abril de 2010

Critica do Jornal Rostos ao espectáculo 17 Abril no Barreiro



TELA – Teatro Estranhamente Absurdo - PALMELA / BARREIRO
Uma sátira social em «busca» da actualidade

TELA – Teatro Estranhamente Absurdo - PALMELA / BARREIRO<br>
Uma sátira social em «busca» da actualidadeO grupo de teatro – TELA – Teatro Estranhamente Absurdo, sediado em Águas de Moura, concelho de Palmela, dirigido por Luciano Barata, há 9 anos, levou a cena na SDUB “Os Franceses”, no Barreiro, o espectáculo – “Não pagamos! Não pagamos!”, de Dario Fo.

A peça “Não pagamos! Não pagamos!”, é divertida, tem intensidade dramática.
Uma sátira social que nos coloca perante o maniqueísmo patronato-operário de forma divertida e cómica.
Os actores vestiram os personagens deram-lhes autenticidade.
A brincadeira com o drama psico-social e os jogos de relacionamento dos personagens, prendem-nos, divertem-nos, aguçando a curiosidade sobre qual o sentido final do espectáculo.
A encenação está sóbria e permite a fluidez do ritmo da peça, contextualizando com o espaço exterior onde decorrem acontecimentos que marcam o próprio desenvolvimento da história.


A Antónia (desempregada), interpretada por Ana Carlos, tem um desempenho brilhante, segurando de forma muito firme a personagem e dando-lhe toda a vivacidade.
A Margarida (outra desempregada), assumida por Ana Monteiro, nota-se alguma timidez, mas vive a personagem com intencionalidade.
O João (Operário, Sindicalista e Marido de Antónia), papel vivido por José Santos, nota-se que vai «soltando-se» ao longo da peça, assumindo com algum retraimento o papel numa primeira fase, mas «soltando» o personagem e vivendo-o de forma intensa a partir do momento que assume o seu lugar na cozinha. A partir daí torna-se mais vivo e mais natural.
O Graduado da Policia/Sargento da Guarda/Pai, papeis desempenhados por Nuno Pacheco, são diversificados na sua presença em palco.
O policia é muito arrastado, e, ainda por cima teve o azar de o bigode lhe pregar uma partida.
O Sargento Guarda está espectacular, vivido de forma intensa, na dicção e bastante expressivo.
O pai está um pouco forçado, mas, acaba por estar adequado ao papel.
Nuno Pacheco consegue ser versátil na duplicidade de papeis e tem nota global positiva.
O Luís (Operário e marido de Margarida), vivido por João Martinho, é um personagem vivido plenamente, parece ser já um veterano em palco, espaço que domina e onde, sente-se, está confortavelmente, como peixe na água.
O Cangalheiro, papel desempenhado por Frederico Sombreireiro, está na dimensão do personagem.
Gostei do trabalho de actores. Estão perfeitos. No geral dominam as personagens e conseguem manter o ritmo e a exigência do espectáculo.


Um trabalho divertido com uma encenação que dá espaço para que as personagens possam respirar e as situações sejam vividas com ritmo.
O clima plástico da peça é realista enquadrando a acção no espaço e no tempo.
Quanto aos sons do exterior sentimos a ausência de protestos dos habitantes do Bairro, porque os únicos sons que nos chegam são as sirenes da «policia» e os avisos das buscas. Parece que só há acção policial e que esta não tem qualquer oposição, nem gera burburinhos dos habitantes do bairro.
Mesmo os actores – personagens – quando falam do exterior só comentam a presença de forças policiais.
A introdução de «actualidade» no texto parece um pouco forçada, independentemente, das contextualizações e interpretações que cada pessoa do público possa fazer, de acordo com os seus valores e opções. É o elo mais fraco da peça.


As personagens têm autenticidade. A encenação está sóbria. As interpretações estão excelentes.
O espectáculo é divertido. A «actualização do texto» surge estereotipada.
A intensidade dramática da peça e o seu ritmo fluído, não ganham com uma «linguagem» que empurra o espectador para um contexto inexistente.
Muito divertido.
Mas, em suma, é um espectáculo para ver e sobre a sua mensagem reflectir.
Porque, afinal, no teatro é importante que sinta quem vê…
Parabéns ao Luciano Barata e ao TELA, foi uma noite agradável

1 comentário:

Clara Ferreira disse...

Esta crítica deixa-me algumas dúvidas. Contudo concordo plenamente, e aqui o autor foi justo, com a avaliação que fez da interpretação da Antónia pela Ana Carlos.
Fiquei com a ideia de que o autor gostou e se divertiu, no entanto encontrou alguns defeitos (para mim imperceptíveis) que são capazes de balançar a qualidade da peça. Na minha opinião foi injusto com o Nuno Pacheco, que não conheço, mas que achei brilhante na triplicidade de papéis, afinal ele desempenha três personagens e não duas. Afirmou que no geral a representação foi positiva, pois para mim foi excelente.
Julgo que o autor tem dualidade de critérios (eis uma frase feita e para utilizar dualidade acho que fica óptima): Não sei como o autor afirma que o trabalho de actores está perfeito se ele pôs defeitos?! Se está perfeito, então não há dúvidas, não há defeitos e ponto.
De facto eu nunca poderia ser crítica porque vejo as coisas com o coração e isso talvez me impeça de evoluir.
Para mim o grupo está perfeito, as representações estão perfeitas, a encenação está perfeita e ponto.
Ainda há pouco tempo paguei 30€ para ver uma revista com actores profissionais e houve sketches que quase não percebi o que eles diziam. Quase se desmancharam a rir e como estavam a cantar, se fizessem só nananana, ficava na mesma, pois não percebi muito mais.
Agora este é um trabalho amador, feito por quem ama a arte da representação e que a única contrapartida que tem é o aplauso do público.
Na peça não senti a falta dos protestos da população, pois fiquei sempre com a ideia de que ela estava a tentar esconder ao máximo o que se tinha passado. E se temos algo a esconder se calhar o melhor é não fazer alarido para não chamar a atenção. Não sei, talvez tenha percebido mal.
Concordo absolutamente quando diz: “…, é um espectáculo para ver e sobre a sua mensagem reflectir. Porque, afinal, no teatro é importante que sinta quem vê…” E esta foi uma opinião de quem viu, e sem dúvida cada um terá a sua própria opinião, mas nem todos a expressam por escrito nalgum meio de comunicação.
PARABÉNS TELA E LUCIANO VOCÊS SÃO FANTÁSTICOS.